AS PRIMITIVAS RELIGIÕES
O homem primitivo fazia desenhos nas cavernas para se
comunicar com os deuses
Quando os primeiros homens começaram
a dominar as primeiras técnicas, as invenções e descobertas eram inseridas
num contexto mágico-religioso. A descoberta da levedura, por exemplo, tornou possível assar o pão
e fermentar a cerveja, dois alimentos com uma longa
história de ligações simbólicas com os deuses e outro mundo.
O surgimento da metalúrgica, com o conseqüente desenvolvimento do trabalho em cobre, bronze e ferro, acabou por dar ao artesão
da metalúrgica estranhos poderes a um verdadeiro mágico.
A escrita foi uma invenção dos deuses e como era de
domínio restrito de mosteiros e conventos, serviu como mais um dos elementos
que preservaram o privilégio dos religiosos.
ORDEM E DESORDEM PARA OS HOMENS
A cada avanço no controle do meio ambiente, os
novos instrumentos apareciam como por acidente, ao que as pessoas menos
sofisticadas atribuiriam interferência sobrenatural. Na verdade, porém, vistas
não só as descobertas e invenções do passado, como as que se processam
continuamente no mundo contemporâneo, elas vêm, sempre, como respostas a
problemas e indagações surgidas das próprias necessidades dos homem, seja
qual for seu grau de sofisticação cultural. Em síntese, a humanidade se
coloca problemas na medida em que poderá resolvê-los, a curto prazo, a curto,
médio ou longos prazos.
O que os homens pré-históricos pensavam, talvez não
se possa saber com toda certeza pelo fato de não utilizarem a linguagem
escrita. Os instrumentos e peças que deixaram atrás de si - ossos,
utensílios de toda a ordem, trabalhos de arte - podem ser interpretados
de várias maneiras e são reconstituições fragmentárias de diferentes
agrupamentos humanos, em diversos períodos, ao longo de um extenso lapso
histórico.
Algumas deduções poderiam talvez ser feitas a partir
de práticas e utensílios relacionados com a morte. Os homens de Neanterdal
enterravam seus mortos com cuidado e providos de alimentos e objetos; isso
sugeriria sua crença em outro mundo e implicaria na existência de um elemento,
o conhecimento de sua própria e inevitável morte, o qual por seu lado, implica
em uma noção de tempo.
A confecção deliberada de instrumentos igualmente
sugere um sentido de tempo, porque significa planejamento para o futuro. A
noção de tempo, por seu turno, implica numa de ordem, de que os acontecimentos
se sucedem uns aos outros, regularmente. Nascemos, vivemos durante algum tempo e
morremos. O mesmo acontece com os outros animais. Constatar que existe uma
ordem e observar que "toda a carne vira pó", poderiam ter
levado à conclusão de que o responsável pelo ordenamento da natureza era algo
ou alguém sobrenatural, mesmo que com algumas características humanas ou
animais.
O PODER DOS ANCESTRAIS
As pessoas cujo o controle da natureza é limitado,
naturalmente se inclinam a tentar estabelecer boas relações com seus
ancestrais, dos quais herdaram as técnicas que possuem e com qualquer que seja
a força que responda pela ordem das coisas, que providencie alimentos e filhos,
ou que, às vezes, falhe desastrosamente em tudo.
No Era Paleolítica Superior (30 a 10 000 a. C.),
depois do surgimento do homo sapiens, os enterros se tornaram mais elaborados e
cerimoniosos e há evidências de ligação entre a noção de fertilidade
e as "Vênus", pequenas estatuetas de mulheres, algumas estilizadas,
outras bastantes realistas, com notório destaque para os seios, nádegas e
coxas. Essas figuras não retratariam as mulheres, mas a mulher em geral, a
mulher em seu papel de mãe e seriam usados como amuletos para favorecer a
fertilidade, representado a Grande Mãe, a fonte de toda a vida.
O Paleolítico Superior é também o período da
magnífica arte nas cavernas, cujo objetivo seria estimular a fertilidade dos
homens e animais e favorecer a caça. A arte seria indicativo de uma crença em
alguma ordem sobrenatural da realidade, sobre a qual o homem procurava ter
influência para que ele e os seus estivessem o que comer, como viver e
procriar. Implica também numa atitude mágica de simbolismo mímica, pela qual
o real poderia ser influenciado através da simulação.
PROGRESSO E ACOMODAÇÃO
A "Revolução Neolítica", como foi
chamada, significou o desenvolvimento gradual da agricultura e da
criação de animais, ao invés da colheita e da caça. Começou na Ásia, no
nono milênio a.C., ou antes, e, na Europa, disseminou-se por volta de 350 a.C.
Parece evidente que, à medida que a agricultura e a
criação se estabelecem, as plantas das quais dependem homens e animais para se
alimentar tornam-se crucialmente importantes. O ciclo anual da natureza passa a
ser fator dominante na vida do homem e foco de atenção mágica e religiosa. O
plantio e a colheita são os grandes acontecimentos do ano e são celebrados com
festivais e ritos que pretendem assegurar um bom resultado.
Paradoxalmente, porém, o progresso neolítico no
domínio na natureza pode ter criado maior sentimento de dependência com
relação às forças sobrenaturais do que antes, pelo fato da atitude do
agricultor tende mais à passividade do que a do caçador. O primeiro depende
mais do lento trabalho de forças que estão muito além de seu controle,
e menos de sua coragem pessoal, força e agilidade, fundamentais para a caça.
O sentimento da existência de uma ordem pro
trás da natureza, da dependência dessa ordem e dos perigos da desordem sob a
forma de seca, fome, tempestades, pestes devem ter-se fortalecido ao longo da
existência das comunidades agrícolas.
A maioria das sociedades neolíticas enterrava seus
mortos com grande pompa, especialmente aqueles que tinham sido poderosos, o que
significa respeito aos poderes do morto e, provavelmente, à crença de que
influenciariam o crescimento das colheitas nas terras onde fossem enterrados.
Com o neolítico e a subseqüente complexidade da vida social,as formas
religiosas também foram se tornando mais complexas, refletindo, historicamente,
interesses e necessidades que passaram, de comunais, a de grupos
privilegiados.
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